Por: Rodrigo G. M. Silvestre
O Brasil possuí uma massa de milhões de pessoas desempregadas e um enorme contingente indivíduos que desenvolvem alguma atividade empreendedora para cobrir suas necessidades cotidianas. De acordo com o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2021, realizado pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) o Brasil tem 43 milhões de empreendedores, volume que compreende os que já têm um negócio formalizado ou, no último ano, realizaram alguma ação com intenção de ter um empreendimento no futuro. Dentre esses, cerca da metade são empreendedores por necessidade.
Nesse sentido, é preciso vencer os velhos paradigmas da esquerda no Brasil que tem verdadeira dificuldade de lidar com essa população. Apresentando a visão de que a atividade empreendedora é a antítese da formação da identidade de classe entre os trabalhadores. Porém, não é concebível que esse contingente de 43 milhões de pessoas possam ingressar no mercado de trabalho nos atuais moldes da economia nacional. Desta maneira, a coexistência com a “classe” de empreendedores, especialmente os por necessidade, deve estar no cerne da discussão de qualquer governo popular, especialmente nos anos que se seguirão. Estes serão marcados por um cenário econômico hostil, com variáveis macroeconômicas deterioradas e forte pressão sobre o orçamento público.
Se por um lado empreendedorismo não forma uma unidade em torno do conceito de “classe trabalhadora”, por outro ele pode gerar uma unidade que abarque a noção de “consciência social”. Onde o desenvolvimento das atividades produção e comercialização de bens e serviços possam ser estabelecidas de maneira humanizada. Com um resgate dos valores sociais que estão em franca ameaça no contexto atual.
Essa consciência é necessária não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, que precisa de uma integração e identidade coletiva cada vez mais forte. Sem ela o continente sul-americano corre o risco de ter suas condições sociais ainda mais degradadas, dada a dinâmica geopolítica que se desenhou, especialmente após a Guerra da Ucrânia, que sinaliza uma alteração dos centros de poder econômico mundial do eixo Estados Unidos e Europa, para um eixo que terá certamente a China e outros territórios da Ásia como entes relevantes.
Em todos os territórios latino-americanos, em especial no Brasil atual, os empreendedores seguem invisíveis perante o Estado. As ações de promoção do empreendedorismo tecnológico inovador, que são chamativas para o público em geral, não representam de fato o tipo de atividade que precisa de proteção. Não é o modelo do Vale do Silício que precisamos replicar em solos tupiniquins, mas um modelo pensado nas necessidades e limitações que são encontradas na realidade econômica brasileira e latino-americana.