Por: Rodrigo G. M. Silvestre
A mudança no perfil dos estrangeiros residentes no Brasil, com a ascensão de latino-americanos — especialmente venezuelanos — à condição de maior contingente de imigrantes, ilustra uma integração regional cada vez mais concreta. O fenômeno rompe com o padrão histórico, no qual europeus — sobretudo portugueses — ocupavam o topo das estatísticas migratórias brasileiras. Agora, a aproximação se dá entre vizinhos, compartilhando não apenas fronteiras, mas experiências, desafios e uma convivência cotidiana que transforma cidades e comunidades.
Dados do censo mais recente mostram que a participação de latino-americanos entre os estrangeiros saltou expressivamente, passando de cerca de um quarto do total em 2010 para mais de 70% em 2022, graças à migração venezuelana, mas também ao aumento de bolivianos, haitianos e outros grupos latino-americanos. Essa reconfiguração demográfica revela que o Brasil, tradicionalmente visto como destino para europeus e asiáticos, tornou-se um polo de atração para pessoas que já compartilham laços culturais, idioma similar e questões sociais próximas1.
Esse movimento migratório acelerado vai além da mera convivência. Ele representa a busca por refúgio, oportunidades de trabalho, laços familiares e melhores condições de vida, mas também fortalece a ideia de pertencimento regional. Na realidade urbana, bairros com forte presença de imigrantes latino-americanos, serviços multilíngues e uma maior troca cultural tornam o Brasil um verdadeiro mosaico da América do Sul.
A integração é vista ainda em setores simbólicos, como o futebol. Jogadores latino-americanos, com destaque para colombianos, argentinos, uruguaios e, mais recentemente, venezuelanos, tornaram-se protagonistas nos principais clubes brasileiros. Esse intercâmbio esportivo espelha a dinâmica de integração: talentos compartilhados, rivalidades transformadas em cooperação, e uma presença latina que reforça laços além-diplomáticos2.
Assim, a mudança no perfil dos estrangeiros não só reflete os fluxos migratórios motivados por crises ou oportunidades, mas expressa uma aproximação efetiva entre o Brasil e seus vizinhos, promovendo integração social, cultural e econômica, e consolidando o país como espaço de convivência plural dentro da América Latina123.
O movimento migratório recente dos latino-americanos, liderado pelos venezuelanos, tem impactos profundos sobre a cultura e a economia brasileira. Culturalmente, a chegada de novos fluxos fortalece o multiculturalismo e promove uma troca rica de experiências e tradições. Em cidades que concentram comunidades imigrantes, surgem novos restaurantes, festas típicas, expressões artísticas e idiomas nas ruas, ampliando a diversidade cultural e o repertório do próprio brasileiro. Manifestam-se festas tradicionais venezuelanas, haitianas, bolivianas e colombianas, assim como hábitos culinários e práticas religiosas, que se somam ao mosaico já plural do país.
Essa convivência cotidiana renova o tecido social, incentiva a tolerância e o respeito às diferenças e contribui para que o Brasil aprofunde sua identidade latino-americana, para além do discurso oficial. A música, a moda, o lazer e, especialmente, o futebol têm sido fortemente influenciados por essa troca, com o aumento da presença e da popularidade de jogadores estrangeiros em clubes do país, transformando o perfil das torcidas e a dinâmica do esporte mais popular do Brasil4.
Na economia, o impacto é igualmente notável. Migrantes latino-americanos ocupam nichos de trabalho essenciais em setores como agricultura, construção civil, serviços domésticos, indústria, gastronomia e comércio. Muitos abrem pequenas empresas e contribuem para inovar nos serviços urbanos, dinamizam a economia local e ajudam a suprir carências do mercado de trabalho em determinadas regiões. Além disso, remessas para o exterior e o consumo interno dessa nova população fortalecem setores de comércio, moradia e serviços, gerando renda e arrecadação para o Estado.
O fluxo migratório ainda contribui para enfrentar desafios demográficos, como o envelhecimento da população, ao injetar força de trabalho jovem e disposta. Iniciativas de integração, ensino de português e reconhecimento de diplomas, além da valorização da cultura de origem e do acolhimento, ampliam os benefícios desse processo tanto para imigrantes quanto para brasileiros. O resultado é um país mais aberto, resiliente, inovador e conectado com a América Latina, do ponto de vista cultural e econômico546.
- https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/en/agencia-news/2184-news-agency/news/43850-2022-census-number-of-immigrants-resumes-growth-for-the-first-time-since-1960
- https://www.espn.com/soccer/story/_/id/41110565/south-americas-top-10-players-looking-transfer-window-moves-january
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/en/direitos-humanos/noticia/2025-02/brazil-welcomed-194331-migrants-2024
- https://www.espn.com/soccer/story/_/id/41110565/south-americas-top-10-players-looking-transfer-window-moves-january
- https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/en/agencia-news/2184-news-agency/news/43850-2022-census-number-of-immigrants-resumes-growth-for-the-first-time-since-1960
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/en/direitos-humanos/noticia/2025-02/brazil-welcomed-194331-migrants-2024