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O MARX É POP

Posted on 14 de março de 20234 de agosto de 2025 by americaprofunda

Willian Carneiro Bianeck

Aniversário de falecimento parece uma comemoração mórbida, mas não é incomum. Santos ganham festividades em suas mortes, ícones históricos viram feriados e filósofos são apenas lembrados por seus leitores que afirmam entenderem suas obras e para aficionados em citações duvidosas de internet. E tem pessoas como Marx, lembradas por detratores e entusiastas nas efemérides de sua despedida do mundo materialista que tanto lhe causou interesse.

Não entendo muito bem sobre morte, porque é um assunto que evito. A ficção em seus mais variados gêneros adore especular razões concretas e etéreas que nos levam a partir deste para um outro plano ou apenas virarmos comida aos vermes que primeiro roerem as nossas frias carnes, para dar uma de pedante e botar uma referência machadiana por aqui. Afinal, textos sobre finais são todos parecidos e seguem o roteiro já esperado pelo leitor. Grandes histórias exigem finais poderosos, o que não foi o caso de Karl Marx, que foi acometido por doença e morreu na penúria, sem ter tido êxito quando vivo no seu intento de mudar o mundo. Seu projeto, contudo, não seria esquecido e solapado por sete palmos de terra.

A biografia do barbudo comunista confunde-se com sua própria obra. Não era conhecido muito por seu apreço aos grilhões acadêmicos, pois acreditava que a filosofia não poderia ficar restrita aos empoeirados gabinetes e bibliotecas universitários. Daí porque vivia em piquetes com seu fiel escudeiro Engels, lançando o seu “Manifesto do Partido Comunista” para tentar empoderar a classe proletária e demonstrar que outro sistema além do capitalismo é possível. A sua última tese sobre Feuerbach resume o mantra que carregou em suas trajetórias: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”.

Das releituras leninistas e gramscianas, ao estruturalismo marxista de Althusser, as ideias marxistas continuam em voga, persistindo como uma pedra no sapato para o sistema capitalista. É muito difícil se encontrar qualquer análise séria sociológica sem levar em conta a importância dos ensinamentos da obra colossal “O Capital”  e seus volumes; ainda que incompleta, o estrago que os estudos e escritos trouxeram sobreviveram até mesmo à ampla propaganda desprestigiosa dos principais meios de comunicação, empresários e até mesmo de intelectuais que não simpatizam com suas ideias.

“Um espectro assombra a Europa… O espectro do comunismo”: essa frase é vista como um mote para disseminar o medo de um mundo em que o capitalismo não se sustenta mais; na verdade, é uma mensagem para nos avisar que um outro mundo é possível e necessário, um mundo em que bilionários e suas sandices sejam apenas caricaturas históricas e a fome e a miséria partes de narrativas de terror que não estarão mais nas estatísticas contemporâneas.

Karl Marx hoje continua pop. Suas representações não se limitam a artigos acadêmicos ou livros enormes lidos somente por seus autores; passeiam na literatura, cinema e artes gerais. Há inclusive um passeio turístico em Londres chamado “Karl Marx The Walking Tour” que leva o turista de classe média às localidades preferidas do filósofo. Isso sem falar na sua própria imagem transformada em cédula de dinheiro na sua cidade natal, Trier, de zero euros: não valia nada de fato, mas era vendida à época por 3 euros. O fetiche pela mercadoria que se tornou a sua própria imagem.

Toda essa ladainha tem como conclusão o seguinte: Marx pode ter morrido no mundo materialista que tanto destrinchou, mas continua vivíssimo por meio das ideias e projetos que construiu e criticou. A morte do filósofo alemão não faz sentido, não para quem ainda segue seus preceitos. A data de hoje se presta mais para reavivar a sua atualidade e popularidade, para o bem ou mal. Para a parcela mais tacanha, Karl Marx representa tudo aquilo que não presta e deve ser combatido. Para os demais, é alguém que deve cada ver mais levado a sério, concordando ou não. Para Oswald de Andrade, era motivo para beber: ““ignorando o Manifesto Comunista e não querendo ser burguês, passei naturalmente a ser boêmio”. Para mim, trata-se de meu norte para seguir no meio de um mundo recheado de contrastes e gente bruta que ainda crê na barbárie como algo natural.

Willian Carneiro Bianeck é boêmio por opção, advogado por obrigação, péssimo literato em disfunção e sociólogo em eterna formação.

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