Skip to content
Jornal América Profunda

Jornal América Profunda

Menu
  • Início
  • Sobre o Jornal
  • Como publicar ser texto no América Profunda?
  • Expediente
Menu

A REVOLUÇÃO IN FLUX – ALVARO LINERA E O MARXISMO LATINO-AMERICANO

Posted on 17 de fevereiro de 2023 by americaprofunda

Por: Firmino

Foto: Joel Alvarez

Seguindo a tradição de Mariategui, o boliviano Alvaro Linera é um dos mais instigantes pensadores marxistas da atualidade. Teórico e militante, aplica o marxismo à realidade latino-americana, especificamente à realidade boliviana, como o fez Lênin ao aplicar o método marxista à situação concreta da Rússia no séc. XX, seguindo à regra a tese de que a ciência de Marx não é um dogma mas um guia para a ação, Linera aponta como sujeito histórico do processo revolucionário em curso na Bolívia os povos indígenas, portanto, em grande parte, o campesinato, ao contrário do que predizia o marxismo dogmático, cujo sujeito histórico é o operariado. A diferença entre Lenin e Linera é que para aquele a incipiente mas combativa classe operária russa seria a vanguarda da revolução que despontava no horizonte; e o campesinato russo, 80% da população, mas politicamente despreparado, apesar do histórico de revoltas, era apenas um aliado tático da vanguarda proletária – como estava explícito no chamado à aliança operário-camponesa, no programa do Partido Bolchevique.

O processo revolucionário boliviano se inicia na resistência ao projeto neoliberal implantado em toda América Latina e de forma ainda mais cruel na Bolívia, com a privatização da água ( a guerra da água) no início deste século. Linera aponta cinco fases deste processo que avança de um republicanismo-proprietário até o atual republicanismo comunitário, conduzido pelo MAS de Evo Morales ( Linera foi vice-presidente da Bolivia no primeiro mandato de Evo). A primeira  fase foi caracterizada pela resistência popular às políticas neoliberais implantadas desde Washington e com o apoio da classe dominante boliviana, com a mobilização de um poderoso bloco popular urbano-rural em torno do movimento camponês indígena, que trouxe à tona a crise do Estado, cuja dominação foi posta em questão com o consequente aparecimento das contradições históricas da dominação burguesa-colonialista no país ( Estado monocultural versus sociedade plurinacional) e as contradições de curta duração, como as nomeia Linera – nacionalização das riquezas naturais versus privatização.

Na segunda fase, acentua-se a crise de dominância burguesa-colonialista, os de cima não conseguiam governar e os debaixo começavam a articular e exigir formas de autogoverno. A disputa pela ordem estatal paralisou a reprodução da dominação – que Linera denominou de “empate catastrófico”. Essa situação perdurou de 2003 a 2008.

Foto: TELESUR

A terceira  fase foi caracterizada pela sublevação do povo. Os dominados passavam à ofensiva, quebrando o impasse e levando Evo Morales à presidência, dando início à quarta fase do processo revolucionário, ou o momento jacobino da revolução, em que as classes antagônicas se radicalizam e medem suas forças. Em 2008 acontece a tentativa de golpe pela classe dominante, com apoio do imperialismo americano. O povo derrota os golpistas graças a grande mobilização, ocupando estradas, assumindo o controle de fato das cidades e neutralizando as forças de repressão da burguesia-colonialista. Derrotado o golpe, o bloco popular índigena-camponês se consolida no aparelho de Estado. Tem início a quinta fase revolucionária que se prolonga até hoje com as nacionalizações e a divisão da renda nacional entre todos os bolivianos, com o controle econômico nas mãos do Estado e a grande burguesia sob controle democrático da população ( As classes dominantes, embora politicamente derrotadas, não perderam sua força nem o apoio foraneo e tentaram novamente um golpe de Estado, mais uma vez derrotado, depois da hesitação inicial das forças populares).

Esta quinta fase é caracterizada pelas “ tensões criativas” entre os movimentos populares, segundo Linera, na sua caminhada rumo a um socialismo comunitário do bom viver. Agora afloram as contradições dentro do próprio bloco popular governante, com as reivindicações cada vez maiores dos trabalhadores ainda encontrando dificuldades de atendimento dentro de um Estado herdado da estrutura colonial. A tensão entre interesses particulares dos dominados e os interesses gerais dentro do bloco popular governante, levando por vezes a impasses dos quais a burguesia colonial tenta se aproveitar para dividir a massa popular e seu governo.

Creio que apresentei, em linhas gerais, e muito brevemente, a quem não conhece, o processo que levou a uma das mais fecundas elaborações marxistas da atualidade. Os erros e omissões são de minha exclusiva responsabilidade. Mas quem quiser conhecer o pensamento de Linera, há livros dele traduzidos para o português.

Firmino Torres, observador.

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts recentes

  • Como deixar morrer um bar que nunca existiu…
  • 19 de Agosto: Uma Luta Diária por Dignidade e Moradia
  • Eleições de 2025: Direita Avança e Esquerda Fragmentada Fica Fora do 2º Turno na Bolívia
  • A morte de Miguel Uribe, presidenciável baleado em comício na Colômbia, e as eleições
  • E se Trump usar como sanção a proíbição de Microsoft, Google, Amazon e Meta de comercializar com o Brasil

Comentários

  1. Maria Tereza Gomes Marques Silvestre em E se Trump usar como sanção a proíbição de Microsoft, Google, Amazon e Meta de comercializar com o Brasil
  2. Jaqueline Monteiro Oliveira em Trilhos sombrios: “Nova Ferroeste” e o impacto na vida dos moradores de Morretes
  3. Rodrigo Irala em Mulher
  4. Rodrigo Irala em QUEM MANDOU MATAR MARIELLE?
  5. Rodrigo Irala em QUEM MANDOU MATAR MARIELLE?

Arquivos

  • agosto 2025
  • julho 2025
  • outubro 2023
  • setembro 2023
  • agosto 2023
  • julho 2023
  • junho 2023
  • maio 2023
  • abril 2023
  • março 2023
  • fevereiro 2023
  • janeiro 2023
  • dezembro 2022
  • outubro 2022
  • agosto 2022
  • junho 2022
  • abril 2022
  • março 2022
  • janeiro 2022
  • dezembro 2021
  • novembro 2021
  • outubro 2021
  • setembro 2021

Categorias

  • Academia e sociedade
  • América Invisível
  • Caminhos para a revolução latino-americana
  • Contra-cultura
  • Contra-hegemonia da mídia (intercâmbios)
  • Crise migratória
  • Movimentos Sociais
  • Mulheridades e Feminismo
  • Sem categoria
  • Volume I * nº. 1 * Setembro de 2021
  • Volume I * nº. 2 * Outubro de 2021
  • Volume I * nº. 3 * Novembro de 2021
  • Volume I * nº. 4 * Dezembro de 2021
  • Volume II * nº. 1 * Janeiro de 2022
  • Volume II * nº. 10 * Outubro de 2022
  • Volume II * nº. 12 * Dezembro de 2022
  • Volume II * nº. 2 * Fevereiro de 2022
  • Volume II * nº. 3 * Março de 2022
  • Volume II * nº. 6 * Abril de 2022
  • Volume II * nº. 8 * Agosto de 2022
  • Volume III * n°. 3 * Março de 2023
  • Volume III * nº. 04 * Abril de 2023
  • Volume III * nº. 05 * Maio de 2023
  • Volume III * nº. 06 * Junho de 2023
  • Volume III * nº. 07 * Julho de 2023
  • Volume III * nº. 08 * Agosto de 2023
  • Volume III * nº. 09 * Setembro de 2023
  • Volume III * nº. 1 * Janeiro de 2023
  • Volume III * nº. 10 * Outubro de 2023
  • Volume III * nº. 2 * Fevereiro de 2023
  • Volume IV * nº. 7 * Julho de 2025
  • Volume IV * nº. 8 * Agosto de 2025
© 2025 Jornal América Profunda | Powered by Superbs Personal Blog theme