Por: Wilson Ramos

Um futebolista brasileiro encontra-se preso em Barcelona sob acusação de estupro de uma jovem de 23 anos no banheiro de uma boate. Trata-se de um homem profundamente cristão. A ponto de tatuar Jesus no próprio corpo. Ele seria um exemplo de excesso de cristianismo? Ele é bolsonarista. Seria um exemplo de fascismo cristão no Brasil?
Responder a essas perguntas não é fácil e traz um enorme risco de ferir susceptibilidades, pois a fé nos mitos, por definição, é irracional. Acabamos sempre voltando para a eterna discussão entre essência e excesso.
O problema não estaria na essência do capitalismo, dizem alguns, mas apenas no seu excesso, ou seja, no neoliberalismo ou no ultra-liberalismo, a forma mais intensa de capitalismo. Deram o golpe em 2016 para implantar o ultra-liberalismo sem limites de Guedes e Bolsonaro. E hoje vivenciamos as consequências deste capitalismo em sua forma mais intensa.
Outros, pelo contrário, sustentam que em ambos os casos a questão residiria na essência dessas duas maneiras de existir em sociedade, muito compatíveis entre si. O capitalismo seria essencialmente injusto, e não apenas o seu excesso seria perverso. Essa mesma modulação pela intensidade serviria também para a crítica de todas as religiões e de algumas igrejas cristãs de um modo bastante escancarado.
Dizem mais: essas duas maneiras de existir muito intensas (o ultra cristianismo e o ultra liberalismo) seriam complementares e reciprocamente constitutivas. Uma seria funcional para a outra.
Reformulando a questão: o problema estaria na essência destes dois mimetizados sistemas de valores que caracterizam a contemporaneidade ocidental? Ou a dimensão da nossa tragédia decorreria apenas da modulação na intensidade da fé em cada uma dessas crenças hegemônicas no Brasil bolsonarista?
O futuro que estamos construindo depende muito destas respostas.
Como trataremos coletivamente os excessos talvez seja até mais urgente e necessário do que discutirmos as essências desses dois sistemas de valores que caracterizam o fascismo bolsonarento. Mas em algum momento, até para que consigamos nos libertar desse obscurantismo medieval, teremos que ter a coragem de criticar as essências desses sistemas de opressão fundados na irracionalidade.