Skip to content
Jornal América Profunda

Jornal América Profunda

Menu
  • Início
  • Sobre o Jornal
  • Como publicar ser texto no América Profunda?
  • Expediente
Menu

VIAGEM

Posted on 26 de agosto de 2022 by americaprofunda

POR: Nilson Monteiro

(crônica a Neruda)

 

Onde andas, poeta, como fantasma

grunhindo as tábuas do convés?

 

Onde passeias, leve, pipa entre as cores

dos varais e das casas penduradas nas escarpas?

 

Onde choras, líquido, em meio

às ondas largas e geladas do Pacífico?

 

Onde, plantas, mágico, teu coração

nas pedras, gelatinas de ostras endurecidas?

 

Onde, esfarinhas, versejador, tua alma

em estrelas, uvas bêbadas, cafés franceses?

 

Onde, fincas, amante, as âncoras

na vida, feira livre, de teu povo?

 

Onde, espalhas, boiadeiro, as crinas

de teus cavalos, relinchos selvagens?

 

Onde, anjo, sem alas, sem religião,

feito de renda branca da cordilheira,

tateias a pele desses muros?

 

 

Aqui, poeta,

aqui entre livros, mapas, bússolas, bananeiras

cerâmicas

e escadas,

as pessoas te chamam neste inferno de paixões

de anjo

 

 

Nesta cidade feita de ruelas,

peles, ondas, vinho, fumaça,

bodegas, teias, dores,

empanadas, penhascos que arranham o céu,

choclo e palta nos beiços dos pratos,

pisco e pinga nos copos,

funiculares ensandecidos

 

Descubro, num átimo, que amo

o atômico explodir da vida,

pedaços de gente esparramados

ao pé do cerro

sortidos em meio ao sebo do porto,

sentimentos espalhados sem cercas

 

Descubro que amo

cada arrulho de seus colegiais,

meias de lã, gravatas inglesas

achadas no passado,

maritacas de azul

gritando alegrias e mirando futuros

nas rachaduras da arquitetura

 

Descubro que amo

cada lágrima que desce

nas fendas molhadas da montanha,

vidro, cristal safira que fura os olhos

para embrulhar-se nos lençóis do Pacífico

 

Descubro que amo

cada suspiro de teu ar,

o cheiro pastoso de teu mercado,

cada célula de teus mariscos,

cada ensaio de vôo

de teus copos suados

 

Descubro que amo

cada farelo de tuas pedras

cada dor de seu paraíso

cada ritmo de teus versos

cada sentimento de entranhas,

das putas e das guitarras,

de ventanas, de pinturas

em paredes sem casca

 

Onde, poeta, é permitido sonhar

com este prelúdio salgado

desta sinfonia doce que

deram o nome de Neruda?

 

Aqui,

neste chão agarrado em Valparaíso,

madeira de porão do mar

tua casa de degraus

de mastros eriçados,

La Sebastiana.

 

Nilson Monteiro é jornalista, poeta e escritor. Fundador e Membro Honorário da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina e ocupa a cadeira 28 da Academia Paranaense de Letras.

 

 

 

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts recentes

  • Como deixar morrer um bar que nunca existiu…
  • 19 de Agosto: Uma Luta Diária por Dignidade e Moradia
  • Eleições de 2025: Direita Avança e Esquerda Fragmentada Fica Fora do 2º Turno na Bolívia
  • A morte de Miguel Uribe, presidenciável baleado em comício na Colômbia, e as eleições
  • E se Trump usar como sanção a proíbição de Microsoft, Google, Amazon e Meta de comercializar com o Brasil

Comentários

  1. Maria Tereza Gomes Marques Silvestre em E se Trump usar como sanção a proíbição de Microsoft, Google, Amazon e Meta de comercializar com o Brasil
  2. Jaqueline Monteiro Oliveira em Trilhos sombrios: “Nova Ferroeste” e o impacto na vida dos moradores de Morretes
  3. Rodrigo Irala em Mulher
  4. Rodrigo Irala em QUEM MANDOU MATAR MARIELLE?
  5. Rodrigo Irala em QUEM MANDOU MATAR MARIELLE?

Arquivos

  • agosto 2025
  • julho 2025
  • outubro 2023
  • setembro 2023
  • agosto 2023
  • julho 2023
  • junho 2023
  • maio 2023
  • abril 2023
  • março 2023
  • fevereiro 2023
  • janeiro 2023
  • dezembro 2022
  • outubro 2022
  • agosto 2022
  • junho 2022
  • abril 2022
  • março 2022
  • janeiro 2022
  • dezembro 2021
  • novembro 2021
  • outubro 2021
  • setembro 2021

Categorias

  • Academia e sociedade
  • América Invisível
  • Caminhos para a revolução latino-americana
  • Contra-cultura
  • Contra-hegemonia da mídia (intercâmbios)
  • Crise migratória
  • Movimentos Sociais
  • Mulheridades e Feminismo
  • Sem categoria
  • Volume I * nº. 1 * Setembro de 2021
  • Volume I * nº. 2 * Outubro de 2021
  • Volume I * nº. 3 * Novembro de 2021
  • Volume I * nº. 4 * Dezembro de 2021
  • Volume II * nº. 1 * Janeiro de 2022
  • Volume II * nº. 10 * Outubro de 2022
  • Volume II * nº. 12 * Dezembro de 2022
  • Volume II * nº. 2 * Fevereiro de 2022
  • Volume II * nº. 3 * Março de 2022
  • Volume II * nº. 6 * Abril de 2022
  • Volume II * nº. 8 * Agosto de 2022
  • Volume III * n°. 3 * Março de 2023
  • Volume III * nº. 04 * Abril de 2023
  • Volume III * nº. 05 * Maio de 2023
  • Volume III * nº. 06 * Junho de 2023
  • Volume III * nº. 07 * Julho de 2023
  • Volume III * nº. 08 * Agosto de 2023
  • Volume III * nº. 09 * Setembro de 2023
  • Volume III * nº. 1 * Janeiro de 2023
  • Volume III * nº. 10 * Outubro de 2023
  • Volume III * nº. 2 * Fevereiro de 2023
  • Volume IV * nº. 7 * Julho de 2025
  • Volume IV * nº. 8 * Agosto de 2025
© 2025 Jornal América Profunda | Powered by Superbs Personal Blog theme