Por: Rodrigo G. M. Silvestre

Vivemos uma sociedade limítrofe. As pessoas contemporâneas isolaram-se de tal forma, absortas em suas próprias realidades, que observam passivamente a degeneração social.
Tornamo-nos uma sociedade sedentária, violenta e depressiva. Frutos do que Byung-Chul Han vai chamar de Sociedade do Cansaço, somos incapazes de dialogar verdadeiramente entre nós. Estabelecemos pequenos monólogos simultâneos, de modo que mesmo estando da presença de outros, estamos sós.
Vertiginosamente caminhamos para morrer menos de verminoses e condições degradantes no parto, para morrer por armas de fogo, seja em conflito, seja por suicídios motivados pela depressão ou transtornos de ansiedade.
Esse será então o limiar que vivemos? Será fato que a sociedade ocidental como a conhecemos já atingiu seu ápice e agora vivenciaremos seu ocaso?
Não tenho pretensões messiânicas, mas acredito que os futuros possíveis são frutos da nossa representação e vontade. Na melhor linha de Schopenhauer e da virada linguística da Escola Austríaca.
Possivelmente podemos construir uma Sociedade do Diálogo. Pensar a interação entres as pessoas com base em uma missão comum, pautada em ouvir mais, ver mais, e falar menos. Interromper a sanha de ser ouvido na multidão de monólogos. Identificar a similaridade entre os discursos e criar um ponto de agregação, não de dominação.
A sociedade latino-americana, degradada de maneira crescente nesses últimos trinta anos, precisa projetar qual será sua identidade para os próximos trinta anos. Não parece um cenário animador a manutenção da trajetória atual. Especialmente porque o isolamento social deu espaço e voz ao que temos de pior. Na busca por nosso eterno salvador, demos espaço aos piores representantes de nossos grupos dominantes. O custo social e humano foi altíssimo.
Surgem sinais de mudança. Não de mudança progressista, infelizmente, mas de mudança de resgate de valores e diálogos mais humanistas, felizmente. Ao menos a sensação é de que o elevado custo social pago pela inércia e isolamento latino-americano conseguiu criar a comoção das pessoas, falta ainda a organização. Ainda estão os indignados aguardando pelo salvador, pelo líder carismático.
É preciso criar os espaços para o diálogo, para a ruptura das bolhas criadas pela adoção desenfreada das tecnologias de comunicação e informação. Bolhas dentro das castas sociais mais abastadas e bolhas sociais que expurgam integralmente do debate uma grande parte da população. É, portanto, necessário criar um contraponto, que passa pela revalorização do local, do cuidado com o território e uma redescoberta dos valores externos às rotinas do consumo.
Vivemos uma frequente disputa pela verdade, bem como uma discussão eterna baseada nos emissores e não mais nas ideias emitidas. Como resultado vemos efervescer os conflitos e as rupturas. Preferimos sofrer solitários a compartilhar os sofrimentos coletivamente e buscar soluções e cuidado. Mas se podemos identificar os problemas, possivelmente podemos propor soluções. Especialmente se essas são tão simples quanto permitir que o diálogo ocorra, mesmo sabendo que os temas iniciais serão difíceis, indóceis e pouco agradáveis. Explicitar os conflitos e ouvir os divergentes será um passo necessário, embora não seja suficiente. Precisaremos ir além e projetar em conjunto os resultados que queremos para a Pátria Grande!