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Uma análise dos cenários possíveis

Posted on 19 de novembro de 20214 de agosto de 2025 by americaprofunda

Por: Rodrigo G. M. Silvestre

Viveremos em 2022 uma eleição icônica. Estarão presentes três (ao menos) líderes carismáticos, todos representando parcelas importantes da sociedade brasileira, nenhum, entretanto, representando nada de novo.

O primeiro, um líder popular, cuja narrativa para a campanha vem com a potencia de ter sido preso para evitar que fosse candidato na última eleição presidencial. Diga-se de passagem,  que foi preso pela articulação dos dois outros grupos que irão para o embate. O segundo, atual mandatário da nação, também líder carismático, na semântica maquiavélica, virá de um processo de desconstrução de seu discurso da campanha anterior, pela própria constatação da realidade. Porém terá força no discurso para a base de seguidores que não tem interesse no conteúdo da narrativa, mas tem aversão à possibilidade do retorno do primeiro líder, mencionado anteriormente. O último (por enquanto), é o príncipe fidalgo, que representa a parcela que articulo-se para inviabilizar a candidatura do primeiro líder, porém rompeu com o segundo após as sistemáticas indisposições na consecução da agenda liberal conservadora.

No cenário padrão, cada uma dessas forças tem algo entre 20% e 30% dos votos, deixando de 40% a 10% dos votos em disputa. Sinaliza para um primeiro turno de muito embate e pouca cordialidade, possivelmente nenhuma discussão sobre projetos de longo prazo para o país. O segundo turno, será uma eleição completamente diferente, porque de um lado haverá a discussão entre os resultados da gestão do primeiro líder contra o fracasso dos resultados do segundo. Isso levará  a discussão para o campo da escolha entre os conjuntos ideológicos de cada um, sob uma aparente escolha de qual grupo é menos corrupto. A outra alternativa possível é o embate entre o primeiro líder e o terceiro, onde a narrativa de ambas as partes muito possivelmente será um revisitar do embate jurídico vivenciado por ambos. No terceiro e último cenário combinatório, estarão frente a frente o presidente e o ex-ministro, que terão que revelar seus bastidores e vísceras para capturar os votos de uma esquerda que estará dilacerada pela ausência de seu líder na disputada do segundo turno.

Nenhum dos cenários é alvissareiro para o país, pois esse irá enfrentar uma conjuntura econômica e social draconiana em 2023. Com inflação descontrolada, crise social e desconfiança política, a governabilidade passará pela negociação com o legislativo. Esse terá um forte peso da concentração partidária e movimentos de troca que estão ocorrendo nesse instante. O país passa por uma desconstrução simultânea tanto das práticas liberais quanto das estruturas de proteção social. Soma-se a isso a incapacidade atual da gestão e manter a máquina pública operando minimamente em “velocidade de cruzeiro”, isso significa que as pioras nos indicadores econômicos e sociais demandarão um significativo esforço “apenas” para retomar os patamares anteriores.Nesse cenário, qualquer um dos três líderes terá que apresentar um projeto de longo prazo concreto e factível, que irá certamente demandar um arcabouço legal e regulatório que o sustente.

Um dos líderes demonstrou anteriormente sua capacidade de gestão e articulação, entretanto, a perspectiva de permanência dele no poder levou a uma resposta de grupos sociais que tiveram capacidade de inviabilizar sua continuidade. O segundo líder, demonstrou, por sua vez, incapacidade administrativa e de proposição de uma agenda clara para o país. Nas tentativas de implementar ações de sua agenda liberal conservadora, a inabilidade política teve um custo elevado e resultado pífios. O terceiro é uma incógnita administrativa, não tendo demonstrado objetivamente resultados em sua curta passagem pelo executivo. A articulação política também não é um ponto forte de sua possível gestão, visto que a base de seu discurso confronta diretamente os interesses do grupo político conhecido com “centrão”. Muitos deles acusados criminalmente por esse terceiro líder.

O risco para a primeira liderança é de assumir em um cenário de destruição tamanha, que a fragilidade social obrigue-o a medidas altamente impopulares, e a pressão dos grupos derrotados (como ocorreu em 2014 e 2018) inviabilizem a articulação política. Nesse cenário os custos dos resultados pode destruir a base de apoio popular que estará altamente pressionada pela fome e pela inflação. O remédio conhecido é a alta na taxa de juros, que irá canalizar ainda mais os recursos do setor produtivo para o setor financeiro. O impacto será profundo sobre a concentração de renda no país e irá dificultar sobremaneira a condução de políticas sociais e investimentos.

O risco para a segunda liderança é vencer, dando continuidade ao seu próprio governo, que está implementando políticas altamente populistas, com impacto programado para 2023, em um cenário de alto risco, pois no caso de resposta fraca da economia no retorno da atividade pós pandemia, não haverá espaço fiscal para reverter o ciclo de inflação e estagnação econômica. O risco é de ter um longo período de incredulidade fiscal, somado a indicadores macroeconômicos negativos e uma forte pressão social relaciona da fome e inflação.

O terceiro líder tem como riscos a necessidade de arregimentar um conjunto de técnicos e gestores para a imensidão de posições dentro da máquina pública. E essa indicação depender fortemente dos quadros que hoje estão associados aos mesmos políticos que foram objeto de seus ataques em prol da moralidade. Nesse contexto, a incapacidade de apresentar um projeto claro de governo irá esvaziar a capacidade de indicação técnica para o governo e restando o seu loteamento em busca de governabilidade, reproduzindo por sua vez o modelo que terá sido amplamente criticado durante a campanha. Resta ainda como risco importante para esse candidato a líder, que ele expresse efetivamente os 20% a 30% que tem de potencial.

Me afastando um pouco do possível, partindo para o desejável. Gostaria de ver nas próximas eleições um programa de longo prazo para o país, tendo como foco a resolução dos problemas sociais, especialmente aqueles que assolam a população mais pobre, como a fome e a inflação. Nenhum dos líderes conseguirá reverter os resultados no intervalo de 4 anos, mas possivelmente alguns deles poderão agravar ainda mais a crise. Não consigo avaliar ainda a extensão de um agravamento das condições sociais que podem ocorrer após 2023. Por vezes, o país tem apresentado indícios de estar à beira de confrontos localizados entre a própria população. O governo federal, inclusive, tem instigado a criação desses momentos de “teste de estabilidade” social. Geralmente, recuando no momento final e deixando o estado de incerteza pairando no ar. Nesse sentido, já tenho minha opção entre os líderes postos, ainda restando alguma indeterminação com relação a se teremos efetivamente eleições convencionais.

Dentro desse cenário menos provável, ainda existe a possibilidade do desgaste econômico e social se agravar rapidamente durante o primeiro semestre de 2022, de maneira que só reste ao governo o exercício do discurso de ruptura que é testado frequentemente. E claro, resta sempre o imponderável, pois o Brasil é um país complexo e certamente minha capacidade cognitiva limitada não é capaz de antever todos os contextos possíveis. Mas do que é possível avaliar até o momento, temos um longo trabalho pela frente à partir de 2023, para construir efetivamente um país melhor.

Eu gostaria muito de uma nova liderança, especialmente uma que não representasse o velho homem branco, cisgênero e cristão. Mas é ele que está representado nos três potenciais candidatos da liderança brasileira de 2023. Precisamos pensar o futuro e colaborar para o surgimento de diferentes tipos de liderança. Precisamos ir além do vórtice autodestrutivo que ingressou a território latino-americano e para isso precisamos de ideias e valores diferentes daqueles propostos pela atual conjuntura. Se queremos construir um continente verdadeiramente unido, precisamos também de lideranças que sejam capazes de realizar essa articulação.

1 thought on “Uma análise dos cenários possíveis”

  1. Maria Tereza Gomes Marques Silvestre disse:
    18 de dezembro de 2021 às 14:21

    Gostei muito da análise dos prováveis candidatos.
    Que sejamos corajosos para apoiar a boa escolha ou enfrentar os desafios de péssimos vencedores.
    Tenho idade bastante para saber que vamos enfrentar e sobreviver a esses momentos sombrios e que seremos humanos o bastante, para juntos ao estado, realizarmos ações para diminuir o sofrimento da fome no nosso país.

    Responder

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