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O touro dourado de São Paulo: a estética é importante, porra!

Posted on 19 de novembro de 20214 de agosto de 2025 by americaprofunda

Por: Vinícius Carvalho

Elite é cafona, ponto. Elite é cafona na Europa, na Oceania, na Ásia, na África, nas Américas, na Antártida e suponho que até no Inferno deve ser brega. Nada mais horroroso do que aqueles cabelos rococós da França e Inglaterra de outrora; nada mais horroroso e esdrúxulo que Mônaco e Ibiza. Se eu começar a falar de Estados Unidos então, fudeu.

Eis aí nossa miséria, eis a nossa desgraça de país colonizado. Me permitam falar uma vez sem os rigores que a formação de história me exigem, esse texto será um papo de botequim com alguma fundamentação.

Os coroas costumavam falar que o Brasil jamais deixou de ser colônia. Trocamos Portugal por Inglaterra e depois Estados Unidos. Nossas elites republicanas locais se inspiravam, primeiro, nas elites francesas, no falar, no agir, na arquitetura e depois nos EUA.

A questão é que elite nasceu para ser algo feio porque operam no exagero e na opulência. E é aí que estética opera na esfera política, e não falo isso de brincadeira, Benjamin, o Walter, por exemplo, alcunhou o nazismo e o fascismo de “esteticização da política”.

Não é por menos que todo o processo de radicalização à extrema-direita que se deu no Brasil foi acompanhada de um brutal aparato estético. Uma cultura de exageros nos símbolos, cores nacionais e tendo a tosquice imagética e cultural (na arte, na música, na entonação de voz, nos programas de TV, na religiosidade, humor, etc) como método de comunicação popularesca.

Essa simbiose entre a estética do horrível, do péssimo, do feio, do deplorável, do canceroso, operou como suporte sentimental e alicerce de sustentação para a luta de classes às avessas que o neoliberalismo operou no Brasil.

Sim, uma sociedade hiper-consumista, com trabalhadores jovens ganhando pouco mais de um salário mínimo se endividando para comprar combos de vodka com energético que custavam metade de seus salários, nas quintanejas da vida; meninos da classe C sonhando com camaros amarelos e playboys querendo virar empreendedores e exploradores do próximo, operaram um arcabouço de significados que ajudou a desaguar no bolsonarismo.

Este lamaçal atinge níveis insuportáveis na inauguração do horroroso Touro de Ouro, no Centro de São Paulo, representando a “pujança” da Bolsa de Valores, e vem ao mundo no mesmo dia em que é noticiado que apenas 21% das crianças brasileiras conseguem fazer três refeições diárias.

As bases estéticas são fundamentais para a construção de uma sociedade próspera do zero e não é exagero. Mas então, afinal, qual é o oposto dessa estética do absurdo? O contrário do exagero é a igualdade. Diferente do que querem nos convencer os capitalistas, não é a acumulação que enriquece uma nação, é a equidade e a confiabilidade.

Nossa classe-média quer se inspirar na elite, e esta, por sinal, quer se inspirar naquilo que eles acham que representam a elite de outros países. Porém, muitas das vezes, essas nações da matriz capitalista querem vender para a própria população uma ideia de que são “países de classe média”, ou seja, a romantização de um padrão de vida de vicissitudes urbanas, cosmopolitas e relativamente modestas, é também dominação econômica.

Certa vez tentei me debruçar sobre o que era o tal “minimalismo escandinavo”, porque aquilo estava sendo tão falado seja na moda, seja na arquitetura, e, ao pesquisar vi que o tema era mais profundo e abrangente do que aparentava e muito diferente dos usos que o mercado brasileiro estava fazendo do termo. Por aqui, tentaram transformar minimalismo em luxo: o oposto da ideia original, onde minimalismo simbolizava igualdade, processo histórico de superação da pobreza, beleza, simplicidade e design de ponta acessível a todos.

Os países escandinavos continentais – Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia (este último “fino-escandinavo”, por ter uma origem étnica e linguística diferente dos demais) – foram nações muito pobres na primeira metade do século XX. De raiz histórica igualitária, adentraram o século fortemente influenciados por partidos de esquerda e organizações sindicais. Apesar a economia deplorável, já debatiam com certa vanguarda um sistema penal mais garantista e relativa liberdade sexual, comportamental bem como viviam preceitos de igualdade de gênero já avançados para o período no ocidente.

Em 1933, Aksel Sandemose, um autor de nacionalidade norueguesa e dinamarquesa, escreveu um romance chamado “En flyktning krysser sitt spor”, que em tradução pobre significa algo como “Um refugiado cruza o caminho”. Nesta obra que metaforiza a localidade onde ele nasceu e que seria um símbolo de toda aquela sociedade, Sandemose, passa para o papel um sentimento socialmente reproduzido no cotidiano, as “Leis de Jante”.

Tais leis não eram leis reais, e sim uma espécie de comportamento, onde o êxito de uma pessoa acima das demais era visto como reprovável. Numa sociedade onde todos se conhecem e praticamente inexiste o anonimato requer compostura e moderação (todas as contas bancárias e cadastros de pessoa física eram abertos para a comunidade até bem pouco tempo nestes países). Uma sociedade que respeitava a individualidade, as liberdades e fetiches de cada um, porém sem maiores segredos e coisas a esconder.

Sandemose numerou em 10 as Leis de Jante, onde “nós” significa a sociedade ou a comunidade e formam o chamado “Escudo de Jante dos povos escandinavos”, são elas:

1. Você não pensará que é especial.
2. Você não pensará que está no mesmo patamar que nós.
3. Você não pensará que é mais inteligente que nós.
4. Você não imaginará que é melhor que nós.
5. Você não pensará que sabe mais que nós.
6. Você não pensará que é mais importante que nós.
7. Você não pensará que é bom em alguma coisa.
8. Você não rirá de nós.
9. Você não pensará que nós nos importamos consigo.
10. Você não pensará que pode nos ensinar alguma coisa.

É ou não é o oposto do Touro de Ouro? Mas tudo bem, essa sociedade também tem lá suas chagas.

No pós-guerra, afundados na pobreza, foi fácil nessas nações criar um consenso em torno de uma cultura cotidiana de que apenas seriam prósperos se fossem minimalistas e austeros nos costumes, onde a beleza fosse acessível e capilarizada para toda a sociedade.

Daí casas modestas e parecidas, com móveis simples, poucas variações de cores e sobriedade arquitetônica; roupas lisas, básicas e, no geral, de coloração em peças únicas. Uma camisa amarela era apenas uma camisa amarela, uma calça jeans era apenas uma calça jeans. Roupas femininas que valorizavam não o corpo e as curvas de cada uma, mas que abrangesse e desse autoestima para os diferentes corpos de todas as mulheres.

Da simplicidade, de móveis, decoração e vestimentas, a variação e excelência vieram na forma e na beleza dos cortes, designs e na organização dos espaços. O minimalismo por lá operou uma estética oposta à estética nazifascista por um lado, e oposta à hiper-consumista e aprofundadora do fossos sociais, do outro lado, como nos Estados Unidos.

Essa estética de igualdade e sobriedade ajudou a formar uma classe-média paciente, conformada com as altas e progressivas cargas tributárias necessárias para a redistribuição de renda, a compartilhar serviços públicos e aprofundar o investimento em soberania tecnológica, fundos econômicos soberanos e soft power.

No Brasil, o oposto assimétrico com as Leis de Jante, é a Lei de Gérson. Deem uma olhada no google.

Enquanto Bolsonaro – o liberal anti-iluminista e representante-mor da Lei de Gérson – está ostentando em Dubai e seus asseclas cafonas, fodidos, imorais, feios, sarcásticos e violentos inauguram o ridículo novo símbolo do horror social, o Touro de Ouro, Lula – o nosso verdadeiro Homem de Jante – chamado de comunista pela direita brasileira, foi para a Europa fazer a lição de casa do capitalismo. Falou em Estado Nação, tecnologia, soberania nacional, ecologia, economia, desigualdade e retomada da confiabilidade.

E quem não me deixa mentir é o maior filósofo do capitalismo:

“A totalidade das pessoas comuns e dos agentes econômicos em particular supõem de forma equivocada que a riqueza de um Estado é medida pelos bens materiais, naturais e manufaturados, que possui. Nada poderia estar mais errado. A maior riqueza de uma nação é a confiança.” – Adam Smith, A Riqueza das Nações.

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