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DÁ COLONIZAÇÃO DOS ALIMENTOS À COLONIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Posted on 19 de novembro de 20214 de agosto de 2025 by americaprofunda

Por: Rodrigo G. M. Silvestre

Nossa ancestralidade guarda profunda relação com como nos alimentamos. A origem de nossa nutrição, forma como a obtemos, preparamos e consumimos diz muito sobre nossa cultura. Nesse sentido, a colonização sul-americana é marcada tanto pela usurpação de produtos como o milho e a batata, que tanto serviram à expansão e manutenção humana como a conhecemos, quanto pela introdução de hábitos alimentares estranhos que, além de dissociar o latino-americano de sua cultura, ainda introduziu provisões calóricas de maneira inadequada que levaram contingentes inteiros da desnutrição direto para a obesidade.

A contemporaneidade, trouxe um paralelo interessante entre a nutrição alimentar e a aquisição e consumo de informação. Nela, talvez, resida a nova forma de dominação que os territórios colonizados vivenciam.

No livro “A Dieta da Informação: uma Defesa do Consumo Consciente, de Clay A. Johnson, essa comparação é feita. O autor aponta que o ser humano moderno gasta 11 horas do seu dia em consumo constante de informação. Não apenas se alimentando, mas devorando informações continuamente expelidas pelos eletrônicos de que tanto se gosta. Desta forma, segundo o autor, da mesma forma que podemos nos tornar morbidamente obesos de tanto ingerir açúcar, gordura e farinha, também nos transformamos em glutões de textos, mensagens instantâneas, e-mails, feeds RSS, downloads, vídeos, atualizações e tuítes.

Ele conclui por apontar que o ser humano moderno enfrenta uma tempestade de distrações, sendo bombardeados por notificações ininterruptas e tentados por pequenas doses de informações apetitosas. Assim, da mesma forma que o excesso de alimentos pouco saudáveis pode resultar na obesidade, muita informação sem conteúdo pode facilmente nos tornar ignorantes.

Para os latino-americanos, esse risco é ainda maior, porque pode tornar-se ignorante e “obeso” de informações que sequer são de seu contexto ou reflitam sua cultura. Como o cacau que sai da Bahia para tornar-se chocolate na indústria suíça, e retorna despersonificado para consumo em uma população ribeirinha, no Pará, que mal tem água tratada, mas que rapidamente torna-se obesa pelo consumo “fácil e acessível” de produtos hiper processados. O resultado negativo ficará para o Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto os lucros serão repatriados para o paraíso fiscal mais vantajoso.

Paralelamente, o mesmo fenômeno ocorre com a informação, pois as plataformas de redes sociais de capital internacional pouco ou nada se importam com quem consome maciçamente suas informações, desde que contabilize em grande número sua interação e possa manter os vultosos contratos publicitários de que dependem. O engordamento do latino-americano não se dá ao mesmo tempo que a distribuição dos lucros extraordinários que essas inovações proporcionam.

É fundamental discutir nossos hábitos de consumo, especialmente se pretende-se recuperar os valores de vida saudável e feliz que nossos ancestrais valorizavam. A colonização do pensamento é ainda mais nefasta que a colonização alimentar (embora venham juntas e interrelacionadas). É preciso combatê-la pelo resgate do conteúdo e da diferenciação entre o que pertence ao nosso contexto cultural e o que não pertence.

A velocidade do consumo da informação, assim como a velocidade no consumo de calorias, só resulta em malefícios para corpo e mente.

Não é indiferente consumir 100 calorias de abacate plantado no território, e 100 calorias de chocolate produzido pela indústria multinacional. Não só pela natureza da nutrição, mas também pelo que representa o acesso a cada um desses tipos de produto. Igualmente, não é igual consumir 100 bytes de informação produzida pelo jornalista ou autor local e consumir 100 bytes enviados pelo robô de inteligência artificial do Facebook. Cada um representa um contexto de acesso muito diferente.

A colonização alimentar e de pensamento são as formas de dominação permanente que nós latino-americanos precisamos questionar de maneira permanente e aguerrida. Só pela produção local de alimentos e informações, mesmo que inseridas em uma perspectiva global é que poderá nos tornar realmente uma região livre e atuante.

Os movimentos atuais de desinformação, que levaram a humanidade da pós-verdade, para a não-verdade, têm suas raízes na colonização alimentar (entre outras). Desde que nos convenceu que a “batata francesa” ou o “milho da Monsanto” nunca nos pertenceu. E que graças à indústria e a colonização tivemos acesso a essas iguarias que hoje tanto consumimos.

Pela outra frente de batalha, a desinformação vem introduzir em nossos viciados por informação, obesos de pensamentos vazios, uma colonização que propõe que os latino-americanos não tem espaço na geopolítica internacional, que devem apenas aguardar passivamente os contramovimentos conservadores que chegam em profusão pelas redes sociais. Dele decorre que os líderes arrogantes, pseudo-liberais e conservadores dos hábitos de misoginia, xenofobia e beligerância, são parte de um processo natural. Dele não poderíamos escapar, pois é o acesso que os colonos permitem, com sua potência financeira e institucional.

Ledo engano, a américa-latina é, em muitos casos, o berço desses hábitos e nesse resgate reside a força para a luta. A retomada da consciência sobre a ancestralidade comum, sobre as divergências e principalmente para quais os rumos para uma identidade comum, é o caminho para a descolonização e para o exercício total da potência dos povos latino-americanos!

Sejamos saudáveis no consumo de alimentos e informações e vamos reconstruir nossas relações com essas dimensões de nossas vidas para realizar de fato um projeto comum de felicidade!

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