Skip to content
Jornal América Profunda

Jornal América Profunda

Menu
  • Início
  • Sobre o Jornal
  • Como publicar ser texto no América Profunda?
  • Expediente
Menu

Mansplaining: Não sabe o que é? Pergunte em voz alta, com certeza um homem te explicará (mesmo que ele não saiba).

Posted on 10 de novembro de 20214 de agosto de 2025 by americaprofunda

Por: Ana Flávia Bassetti

 Há bastante tempo adquiri o hábito de pedir informações na rua só para mulheres. Por quê? Porque nunca, nesta situação, nenhum homem me disse que não sabia onde ficava a Rua X ou qual ônibus pegar para chegar até o lugar Y. Resultado: muitas vezes acabava mais perdida do que antes por causa da informação errada.Mas, quando falamos de mansplaining – do inglês: man = homem, e splaining = a forma informal do verbo explain, que significa explicar – estamos falando daquela velha cena em que um homem explica algo para uma mulher que ela evidentemente sabe. Ou, quando ele explica algo de forma muito didática, como se ela não fosse capaz de compreender. Ou ainda, quando começa a explicar alguma coisa a uma mulher assumindo, de antemão, que ela não sabe nada sobre aquilo. Tem homem que quer explicar feminismo para mulher, AVC pra médica, teorema de Pitágoras para engenheira, corte à Julienne para uma chef de cozinha… Gente, é sério. Já soube de homem que discutiu com mulher sobre a localização do clitóris. Calculem!

Eu adotei uma cachorra recentemente e, como tenho falado muito sobre ela e da minha jornada na educação canina, essa prática me saltou aos olhos. Um rapaz, com o qual estava tendo um “trelelê” e que acompanhou meu encontro com a Madalena desde o começo, quis explicar como eu deveria lidar de forma prática com as minhas emoções. Aconteceu que, no quinto dia da Madá aqui em casa, me deu um medo tipo “meu deus, serão mais de quinze anos de completo comprometimento com ela: Será que dou conta? Será que vou me arrepender? Será que fiz a coisa certa? Dividi com ele o drama, afinal, parecia ser um cara aberto para conversas um pouco mais profundas. Foi quando ele começou a me aconselhar sobre como eu tinha que amá-la e deixá-la me amar, que eu deveria olhar as coisas boas, e não as ruins. Oras, não se tratava disso. Eu sei que vou amá-la, e que ela, por óbvio (e pela boa ração que eu compro), me amará.  A questão era dividir uma insegurança com um amigo. Eu não estava pedindo uma solução, ainda mais óbvia como a que estava me dando.

Outro dia, o namorado de uma amiga veio aqui em casa. Era a primeira vez que nos víamos e, em dois minutos de conversa, ele começou a me explicar porque ela não fazia xixi no lugar certo, o que eu estava fazendo de errado e o que era o certo a se fazer, mesmo depois de saber que eu estava sendo acompanhada por um adestrador. Detalhe: ele comprou um cachorro recentemente que já foi doado como um móvel que não serve mais, mas essa discussão fica para outro dia.

Uma amiga me contou da última que ela passou. Foi até o banco resgatar a previdência privada para fazer a reforma do apartamento recém comprado. O rapaz que a atendeu pediu que ela pensasse melhor sobre o caso pois, ao fazer a retirada naquele momento, teria uma desvantagem financeira. Ela disse estar ciente disso e que ainda assim gostaria de retirar o dinheiro. Ele, não contente, sugeriu que antes de tomar a decisão ela fosse para casa e conversasse com o marido. Ela é solteira. Ela é solteira e inteligente e independente. 

São coisas mais ou menos sutis que acontecem todos os dias no ambiente de trabalho, no meio acadêmico, no almoço de família, na mesa do bar, nos relacionamentos amorosos. Falando nisso, tenho amigas que depois de casadas mudaram radicalmente seus posicionamentos políticos, seguindo as convicções dos maridos. Eu nunca vi nem ouvi falar sobre algum caso em que o contrário tenha acontecido. Vocês já?

Ah, mas então os homens não podem mais expor suas opiniões? São tempos em que esta arapuca de “expor a opinião” está armada em todos os lugares, não é? E eu entendo que para alguns seja difícil de entender. Afinal, os homens em sua maioria foram ensinados que devem ensinar as mulheres. Foram ensinados que devem saber tudo, e muitos acabam achando que sabem mesmo. Foram ensinados a não demonstrar fraquezas, a dar conta. E nós, mulheres, também acabamos muitas vezes procurando uma opinião masculina, pois ela nos foi vendida desde muito cedo como sinônimo de segurança. Mas você, homem, pode, antes de explicar algo a uma mulher, verificar se ela pediu sua opinião. Você pode abrir espaço para perceber que mulheres são intelectualmente capazes e que podem e vão saber mais sobre algumas coisas do que você. Você pode tentar baixar esta “ansiedade explicativa” e exercitar essa coisa linda que é a escuta. 

Há muito caminho ainda. E a caminhada é, para nós e para eles, a passos de formiguinha. Quanto tempo vai levar? Qual o tamanho do passo de uma formiga? Quem aí sabe?

Imagem: Jason Adam Katzenstein. 

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts recentes

  • Como deixar morrer um bar que nunca existiu…
  • 19 de Agosto: Uma Luta Diária por Dignidade e Moradia
  • Eleições de 2025: Direita Avança e Esquerda Fragmentada Fica Fora do 2º Turno na Bolívia
  • A morte de Miguel Uribe, presidenciável baleado em comício na Colômbia, e as eleições
  • E se Trump usar como sanção a proíbição de Microsoft, Google, Amazon e Meta de comercializar com o Brasil

Comentários

  1. Maria Tereza Gomes Marques Silvestre em E se Trump usar como sanção a proíbição de Microsoft, Google, Amazon e Meta de comercializar com o Brasil
  2. Jaqueline Monteiro Oliveira em Trilhos sombrios: “Nova Ferroeste” e o impacto na vida dos moradores de Morretes
  3. Rodrigo Irala em Mulher
  4. Rodrigo Irala em QUEM MANDOU MATAR MARIELLE?
  5. Rodrigo Irala em QUEM MANDOU MATAR MARIELLE?

Arquivos

  • agosto 2025
  • julho 2025
  • outubro 2023
  • setembro 2023
  • agosto 2023
  • julho 2023
  • junho 2023
  • maio 2023
  • abril 2023
  • março 2023
  • fevereiro 2023
  • janeiro 2023
  • dezembro 2022
  • outubro 2022
  • agosto 2022
  • junho 2022
  • abril 2022
  • março 2022
  • janeiro 2022
  • dezembro 2021
  • novembro 2021
  • outubro 2021
  • setembro 2021

Categorias

  • Academia e sociedade
  • América Invisível
  • Caminhos para a revolução latino-americana
  • Contra-cultura
  • Contra-hegemonia da mídia (intercâmbios)
  • Crise migratória
  • Movimentos Sociais
  • Mulheridades e Feminismo
  • Sem categoria
  • Volume I * nº. 1 * Setembro de 2021
  • Volume I * nº. 2 * Outubro de 2021
  • Volume I * nº. 3 * Novembro de 2021
  • Volume I * nº. 4 * Dezembro de 2021
  • Volume II * nº. 1 * Janeiro de 2022
  • Volume II * nº. 10 * Outubro de 2022
  • Volume II * nº. 12 * Dezembro de 2022
  • Volume II * nº. 2 * Fevereiro de 2022
  • Volume II * nº. 3 * Março de 2022
  • Volume II * nº. 6 * Abril de 2022
  • Volume II * nº. 8 * Agosto de 2022
  • Volume III * n°. 3 * Março de 2023
  • Volume III * nº. 04 * Abril de 2023
  • Volume III * nº. 05 * Maio de 2023
  • Volume III * nº. 06 * Junho de 2023
  • Volume III * nº. 07 * Julho de 2023
  • Volume III * nº. 08 * Agosto de 2023
  • Volume III * nº. 09 * Setembro de 2023
  • Volume III * nº. 1 * Janeiro de 2023
  • Volume III * nº. 10 * Outubro de 2023
  • Volume III * nº. 2 * Fevereiro de 2023
  • Volume IV * nº. 7 * Julho de 2025
  • Volume IV * nº. 8 * Agosto de 2025
© 2025 Jornal América Profunda | Powered by Superbs Personal Blog theme