Por: Ana Flávia Bassetti
“descontrolada! a senhora está totalmente descontrolada. linda, não precisava nem abrir a boca. outro aborto que aconteceu na história brasileira. burra. se encontro na rua, soco até ser preso. toda poderosa. histérica! ela é louca. raciocina brilhantemente como homem. bruxa! você é secretária de qual secretário? prostituta! porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece. nojenta. deviam ganhar menos. as mulheres têm mais sensibilidade para as questões sociais e vão ocupar cargos na área de assistência social. mocinha, se inscreve no Big Brother, põe um silicone e tenta algo na TV ou na indústria pornô. os homens recorrem à violência porque se sentem intimidados e não aceitam que as mulheres, no geral, são mais fortes e melhores. abortista! as mulheres têm uma natural propensão para as atividades das artes, da cultura, do lazer onde, gerando emprego, elas podem ter renda e melhorar sua condição de vida. é assim que nós vamos fazer a política da mulher. agressiva! quer dar furo. arrogante! se eleita, quem administrará a cidade não será ela, mas seu marido. quem você quer provocar com esse batom vermelho? você é casada? elas não fazem questão de estar na CPI. você é muito burra, meu Deus, como pode. meu anjo, cala a boca! está nervosa. anticristã! se foi um erro das lideranças não indicarem as mulheres, a culpa não é nossa. rude. acho que as mulheres já foram mais respeitadas e mais indignadas, né? não precisa ficar aí gritando. calma, não precisa ficar nervosa. tu é patricinha mimada, poderia estar comprando bolsa no shopping. se você está com essa agenda tão cheia assim, com filho pequeno, etc. como quer ser prefeita? você tem tesão em mim? você quer ser homem? vou te tratar como homem. é mulher, tem que falar mesmo. está querendo aparecer. política não é muito da mulher. quem é essa cachorrinha? essa menininha vai para a cozinha lavar louça. safada! mulher agressiva e arrogante. doida! despreparada. descontrolada!”
São todas citações de falas recentes de homens sobre mulheres ou a elas dirigidas em espaços políticos brasileiros.
Interrompidas. Descredibilizadas. Ignoradas. Desautorizadas. Silenciadas. Questionadas. Abafadas. Silenciadas. Menosprezadas. Assediadas. Violentadas. Atacadas por serem mulheres.
Ora, o machismo e a misoginia tiveram papel de destaque no impeachment da Presidente Dilma, no ambiente político formal e fora dele. A violência política de gênero é largamente usada pelos homens como ferramenta de poder. Olha que ainda ocupamos pouquíssimo espaço! E quanto mais avançamos, mais esta violência tende a se intensificar.
Bom, que guardem saliva! Nada, absolutamente nada, indica que recuaremos ou nos calaremos.
“Minha palavra é de mulher, mas vale. Não é só palavra de homem que vale, não.” Marielle Franco
Imagem: Leolinda Daltro, baiana, professora, defensora da educação laica nos povos indígenas. Era, claro, também hostilizada: chamavam-na “mulher do diabo”. Criou o primeiro partido político feminista do Brasil, o Partido Republicano Feminino, em 1910. As mulheres só puderam participar oficialmente da vida política brasileira, votando e sendo votadas, em 1932.
Ana Flávia sempre muito certeira nos seus textos e opiniões, além de uma escrita clara e objetiva. Por mais Anas assim no mundo!
Obrigada, Jô!