Por: Felipe Mongruel
Antes de falar de Angicus (Rio Grande do Norte, Brasil) preciso falar que Paulo Reglus Neves Freire, ou simplesmente Paulo Freire, desde 2012 é o Patrono da Educação Brasileira mesmo que cães tentem ladrar ao contrário. Se não pelas centenas de analfabetos que um dia Paulo resolveu alfabetizar em Angicus num curso de 40 horas, pelo método horizontal de profundidade critica e de olhar atento do indivíduo pra dentro de si.
Na relação som e imagem, Paulo Freire descobriu que os substantivos demostrados com sua função na vida humana tinham o poder de compreensão do seu papel no mundo. Por exemplo, “farinha”, “tijolo” sendo demonstrados no dia-a-dia do sertanejo, atrelados aos seus efeitos com outros substantivos, “trabalho”, “pobreza”, não só ensinavam mas educavam. Construíam, pensavam e libertavam.
Através de seu método de libertação, o advogado socialista foi convidado pelo prefeito do Recife da época (estamos falando da década de 50) Miguel Arraes, para ser o secretário de educação da capital do São Fransisco. Assim também, na gestão estadual do futuro governador Arraes, Paulo o acompanhou e, em diante, o Brasil de Paulo Freire era um país de sonhos e de corrida independente e soberana.
Estava provado que a velocidade do método de alfabetização aliado à educação crítica dos significados da vida real era um potente transformador democrático na sociedade.
Começava a década de 60 no Brasil e uma profunda polarização política no país acontecia. Em 2 de abril de 1963, foi realizada a última aula na cidade de Angicus-RN, onde o método tinha nascido. O evento de então contou com a presença de dois personagens importantes para o prosseguimento da história: João Goulart, então presidente da República e o General Castelo Branco comandante do 4º Exército. No ano seguinte, João Goulart, ou simplesmente, “Jango”, decretou o PNA- Programa Nacional de Alfabetização- chamando Paulo Freire para ser o responsável pelo programa que detinha o intuito de alfabetizar 5 milhões de brasileiros e brasileiras onde, na época, analfabetos não podiam votar, e por óbvio, tal medida seria uma expansão de muita relevância para o número de eleitores no colégio eleitoral brasileiro.
Entretanto, como a classe dominante nunca dorme, o programa que estava previsto pra ser oficialmente iniciado em 13 de maio de 1964 não aconteceu. Em 1º de abril daquele ano, se instalava a ditadura militar no Brasil que carregou 21 anos da nossa história, além de milhares de pessoas mortas e desaparecidas para os porões da tortura, da censura, do reacionarismo e da arbitrariedade.
O General Castelo Branco foi instituído presidente, o PNA extinto e Paulo Freire preso.
Após a prisão de 70 dias, Paulo começava a sua vida no exilio: Bolivia, Chile, depois Estados Unidos e posteriormente Suíça.
No Chile, Freire trabalhara com educação de campesinos para o governo chileno e é de lá que lança sua principal obra, datada de 1968, PEDAGOGIA do OPRIMIDO, que foi traduzido para dezenas de línguas mundo a fora. No mesmo ano, o Brasil instalava o AI-5 (Ato institucional nº 05.) fechando o Congresso Nacional e recrudescendo o espirito autoritário.
Freire sai do Chile em 1969, pouco antes do golpe militar de lá (1973) e se muda para os Estados Unidos, onde vai lecionar na Universidade de Harvard.
Em 1970, Freire parte pra Genebra, na Suíça, onde trabalhou como Consultor do Conselho Mundial de Igrejas visitando mais de 30 países. No ano seguinte liderou o IDAC- Instituto de Ação Cultural, promovendo trabalhos de Justiça Social na Itália, Suíça e África.
Já em 1975, Freire chega ao continente africano onde participa do processo de descolonização de países como Moçambique, Guiné-Bissau, Angola entre outros. A década 70 no Brasil acaba com a Lei de Anistia, promovendo o retorno do educador à pátria mãe.
Em seguida, Paulo Freire passa a dar aula em universidades públicas e privadas de São Paulo e é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, em 1980. Dá-se início ao Movimento das Diretas Já e durante o governo de José Sarney que herdou a cadeira presidencial após a súbita morte de Tancredo Neves em 1985, Paulo perde sua esposa Elza no ano seguinte e em 1988, enfim, é promulgada a Constituição Federal da Republica do Brasil, conhecida como Constituição cidadã.
Nas primeiras eleições diretas, a maior cidade da América do Sul, São Paulo, elege a nordestina Luiza Erundina como prefeita e Paulo Freire ocupa o cargo de secretário municipal na sua gestão.
O advogado pernambucano Paulo Freire, educador e revolucionário, detentor de 48 títulos honoris causa, 3º maior autor citado em obras de educação no mundo, inventor do maior e mais libertador processo educacional do Brasil deixou de bater seu coração em 2 de maio de 1997. Porém bate forte o coração revolucionário, bate forte o coração libertador, o coração daquele que expande e verdadeiramente fez nascer em nós o agente transformador das causas sociais e do pensamento crítico.
Em 2018, o Brasil elegeu Jair Bolsonaro presidente da República, como uma de suas pautas: a criminalização e a destruição da obra de Paulo Freire. O ataque feito a Freire é o ataque à emancipação social e à justiça social. As agressões à obra de Freire nada mais são do que ataques da classe dominante aos excluídos da vida digna e desprotegidos do bem estar social.